Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Sem qualquer spoiler, posso adiantar que a batalha entre as notas musicais de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é uma das sequências mais inventivas do cinema moderno, algo que somente um cineasta completo como Sam Raimi seria capaz de conceber, ao mesmo tempo que abre alas para que seu compositor predileto, Danny Elfman, possa brilhar igualmente.
É bastante curioso notar a ousadia extrema que o MCU toma aqui no sentido do gore e da violência, com pessoas sendo empaladas, esmagadas, cortadas ao meio, explodidas, desintegradas e até tendo o pescoço quebrado. Se na minissérie encerrada hoje de O Cavaleiro da Lua, o nível de agressão já era maior do que qualquer outra produção do estúdio, a continuação de Doutor Estranho não só eleva isso em dobro, como é mais violenta do que muito filme de terror por aí.
É a Marvel entregando carta branca para Raimi, um diretor autoral que, como poucos (poucos mesmo, somente James Gunn e Taika Waititi tiveram tal oportunidade antes), extrapola todos os limites e possibilidades narrativas e criativas, todas de encher os olhos, ainda que algumas não tenham exatamente função em tela.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Michael Waldron, que havia feito um trabalho mediano na série do Loki, parece encontrar mais voz ao dar todos os escapes possíveis para o diretor pirar. A junção do roteirista, cineasta e compositor é harmônica e potente, entregando um dos filmes mais alucinantes e singulares do MCU. Não que o roteiro tenha grandes coisas: eles colocam duas figuras em oposição para proteger ou destruir America Chavez (que tem o poder de abrir portais entre o Multiverso) e isso desencadeia uma aventura e tanto, com a típica fórmula Marvel (e se você não se acostumou a ela na última década, então sinto muito), que por mais desmontada que surja aqui, ainda segue a cartilha.
Participações completamente improváveis (os fãs erraram uma, talvez tenham acertado outra, e a terceira vinda de uma série fiasco realmente foi surpresa) e os fanservices, já evicenciados pelos trailers, são divertidos de se ver, mas ficam só na promessa. A expectativa é que alguns desses, antigos e novos, tenham espaço próprio num futuro breve.
É muita loucura
Benedict Cumberbatch retorna mais à vontade do que nunca no papel de Stephen Strange e é muito melhor aproveitado do que sua estranha participação em Sem Volta para Casa. Elizabeth Olsen brilha por igual com sua Feiticeira Escarlate, mas talvez não do jeito que o público imaginava. Xochitl Gomez está uma graça como America Chavez e tem potencial nesse universo. Wong, Mordo, Christine Palmer e tantos outros funcionam como peças no tabuleiro, mas o enredo é inchado – provavelmente, na tentativa de esconder a simplicidade do texto com firulas visuais e vaivém.
Enquanto isso, Raimi brinca e brinca bastante. Aqui não temos o diretor da marcante trilogia Homem-Aranha (apesar que uma cena ou outra parecem acenos sutis para tal), mas o da franquia Evil Dead, em especial Uma Noite Alucinante 2 e 3.
Com uma aventura honestamente alucinante, a Marvel dá um passo e tanto (e talvez esteja se metendo num imbróglio) com essa coisa de Multiverso. O estúdio jamais conseguiu superar a década que culminou em Ultimato, mas tem sido interessante acompanhar o que eles vem tentando até aqui. Fique de olho. Os três.