Justiça em Família – errado do começo ao fim
Não existe defesa para esse filme do tal Brian Mendoza: querer fazer o público acreditar que um civil resolve se vingar de um CEO de uma megacorporação por sua perda pessoal é a mesma coisa que eu tentar matar o Mark Zuckerberg na porrada porque meu Facebook bugou. É estapafúrdio, ilógico e ridículo. Justiça em Família já começa errando na premissa.
Mendoza até tem talento na parte técnica, nas escolhas de tomadas e fotografia. O enredo, se fosse uma vingança mais “pé no chão”, até poderia servir de referência a tantas produções do tipo que rolaram nos anos 1990 (algo entre o revés de quintal e a fuga do inocente), abraçando o dramalhão e a cafonice dos diálogos em off. As sequências de ação e assassinato mais realistas funcionam até certa medida, à lá Jason Bourne (e disso veio também a desnecessária câmera tremida).
O elenco é bom (Jason Momoa não, Jason Momoa é sempre desinteressante e apático), principalmente pela figura de Isabela Merced (que era Isabela Moner até ontem e foi uma ótima Dora Aventureira), mas não existe possibilidade de me convencer que uma mina que aprendeu boxe em seis meses e tem a estatura de uma criança (literalmente), se comporte como John Wick, inclusive na hora de matar homens armados e assassinos profissionais. Desculpa aí.
Justiça em Família
Não fosse tudo isso e a trama clichê (que a gente perdoa nessa grande locadora que é o streaming — afinal, nem tudo precisa ser uma obra-prima, apenas minimamente escapista para me salvar uma noite do marasmo), tem ainda a pior decisão de todas depois da premissa: a sua reviravolta.
Sem pé nem cabeça, não existe psicólogo que justifique aquela saída, que não ressoa com nada que foi apresentado antes, nem do que vem depois. O lance da projeção/dupla personalidade é patético e evidencia um desespero da narrativa em trazer algo de diferente no mar do “maisdomesmo”.
Não dá, não deu e não deve funcionar nem com a tia que curte uma novela. Não adianta querer reinventar a roda depois de um começo daqueles. Deveriam ter seguido a ação básica, que os danos seriam menores. Às vezes, menos é mais. Na verdade, quase sempre.