Mulher-Maravilha 1984 – O que você deseja?

Longo, lento, cheio de personagens, épico e maravilhoso

Assim que “Mulher-Maravilha 1984” começa, é exibido, em letras garrafais, o aviso que você está vendo um filme de Patty Jenkins. Assim que o filme termina, é difícil não ficar pensando na rápida ascensão da diretora: ela não tinha nenhum grande trabalho de destaque antes de sua estreia explosiva com o primeiro Mulher Maravilha, aclamado por público e crítica (até eu gostei, apesar de ter ressalvas históricas, mas só porque eu sou imensamente chato).

O novo longa da heroína (e vou deixar no ar se eu me refiro à personagem, à diretora ou à Gal Gadotzinha do meu coração) coloca Jenkins definitivamente no rol dos grandes diretores da atualidade – inclusive, ela anunciou recentemente no Twitter que vai dirigir um longa de Star Wars, em um vídeozinho que não mostra nada, mas já me deixa ansioso para ver o resultado desse trabalho.

Mulher-Maravilha 1984

Longo

Mas Patty não somente cuida da direção do filme como assina a produção e o roteiro, o que dá uma impressão bem autoral para a obra. A Warner e em especial a DC se esforçaram muito para copiar a Marvel e criar o seu universo compartilhado. O fracasso monumental de Liga da Justiça limpou essa ideia da mente deles: nem todo estúdio tem um Kevin Feige por trás para organizar toda a história entre os filmes.

A DC se achou em mundinhos individuais: suas melhores obras focam em uma história única, sem fazer parte de um universo maior. É assim com Joker, Shazam, Aquaman e Mulher Maravilha. E é verdade que o novo longa é uma continuação direta do filme de 2017, porém avança mais de 60 anos na linha temporal da história. Sendo assim, é um mundo totalmente novo, com personagens totalmente novos. Isso tudo leva tempo e o filme ocupa gigantescas duas horas e meia. Vá ao banheiro antes.

Lento

Até mesmo a introdução pré-créditos parece levar mais tempo do que o necessário, como se fosse uma historinha à parte, terminando com a própria lição de moral no melhor estilo He-Man, mas vindo no começo ao invés de vir no final.

E o longo tempo de filme parece ainda maior graças ao ritmo vagaroso que ele tem. Cada ponto na história toma seu tempo para ocorrer e nada é jogado ou apressado. Não é nem de perto aquela maluquice cheia de ação ininterrupta que o Zack Snyder adora; é tudo muito bem dosado, os probleminhas crescendo um por vez, apresentando os personagens sem pressa, deixando os atores brilharem.

Mulher-Maravilha 1984

Cheio de personagens

E os atores brilham. Pedro Pascal está divertidíssimo no papel de Maxwell Lord (não é um anagrama para Mandalorian, eu tentei montar). Muito bem equilibrado entre o extremamente carismático e absurdamente maluco, Pascal é um galã improvável, e parece a escolha perfeita para o papel. A química dele com a Kristen Wiig funciona, também graças à atriz, que é divertidíssima. Wiig não consegue não ser engraçada e ambos têm empatia suficiente para criarem personagens gostáveis. Por sorte, ambos também são vilões e não tem nada melhor para um filme de herói do que um vilão empático.

Quem está de volta também é Chris Pine, reprisando o personagem do primeiro filme, uma notícia que eu odiei quando foi divulgada. Tentei resistir a gostar desse retorno durante boa parte do filme, mas ele me ganhou graças ao roteiro bem amarradinho que faz com que nada seja gratuito. O personagem se torna fundamental na história e no arco da heroína.

A heroína que continua foda. Gal Gadot rouba toda cena que aparece – e rouba meu coração toda vez que sorri. Dá para sentir de novo aquele amor pueril platônico por uma personagem fictícia. Ela está confortável não só como a Mulher Maravilha, mas principalmente como Diana Prince, que, devido ao ritmo do filme e decorrer da história, aparece muito mais – ao ponto de você torcer para vê-la entrar em ação logo.

Épico

A ação demora para chegar, mas quando chega é sensacional. Novamente graças à brilhante visão da diretora, é uma delícia ver a Mulher Maravilha salvando o mundo. Toda cena de ação é bem montada, com um setup bem apresentado e com perseguições, lutas, voos e várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, porém sem nunca te deixar abandonado.

E os problemas enfrentados também vão crescendo exponencialmente, tomando enormes proporções. Puxar a história para a década de 1980 tem uma função maior do que recriar o visual coloridão da época, espalhar neon e meter uma pochete no Chris Pine. É tudo claramente inspirado nos quadrinhos e até os pontos mais bobocas da heroína ganham uma desculpa aceitável para existirem.

A trilha sonora também é épica, como não poderia deixar de ser por levar o nome de Hans Zimmer. Mas ainda deu pra sentir falta de uma pegada mais anos 1980, uma inspiração de Guardiões da Galáxia para ajudar a colocar no clima.

Mulher-Maravilha 1984

Maravilhoso

E, embalando todo o pacote, a mensagem transmitida pelo filme é belíssima, cheia de esperança. Por se deixar tomar tempo em cada personagem e em cada andamento da história, ao chegar no final, nos sentimos próximos aos acontecimentos. Se há um problema a se destacar é que o último ato não parece à altura do resto do filme, às vezes soando meio piegas demais e dando a impressão de que o clímax foi antecipado.

Mulher-Maravilha 1984 conversa bem com o primeiro filme, mas funciona também sozinho e ignora todo o universo DC ao seu redor. Isso tem se mostrado uma decisão acertada no mundo de heróis da Warner.

Confiar na Patty Jenkins para levar o filme da forma dela, no ritmo dela, valorizando uma história bem contada em detrimento de ação desenfreada é outro acerto. É meu desejo daqui pra frente assistir tudo o que a diretora lançar – mas, como fica claro pelo filme, eu só preciso tomar certos cuidados com os meus desejos.

Mulher-Maravilha 1984

Nome Original: Wonder Woman 1984
Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal, Robin Wright
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Produtora: Atlas Entertainment, DC Comics
Distribuidora: Warner Bros.
Ano de Lançamento: 2020
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