Origens Secretas – filme espanhol cheio de nerdices
Eu entendi a referência. Todas elas.
Misturando a atmosfera e a brutalidade dos crimes de ”Seven: Os Sete Crimes Capitais” com nerdices (dos quadrinhos, da TV e do cinema), David Galán Galindo dirige Origens Secretas, um filme ao mesmo tempo divertido, com suspense na medida certa e que vai agradar em cheio os consumidores de cultura pop.
Em Madri, um serial killer começa a matar pessoas aleatórias com referências aos primeiros números de quadrinhos da Marvel (por isso do título). Então, um jovem investigador é colocado no caso. Ele tem toda uma pinta de Bruce Wayne, inclusive em relação ao passado com a morte dos pais em um beco, após saírem do cinema.
Nada geek e contrário a ideia de heróis (sejam eles reais ou fictícios), ele conta com o apoio da chefe do departamento de homicídios, uma gostosa boca suja que faz cosplay nas horas vagas (mas é como os nerds contemporâneos, só conhece as obras através dos filmes, sem nunca ter lido uma HQ) e também com o improvável sidekick na figura de um nerd clássico, que não só é a fuça do Jovem Nerd, como também é dono de uma comic shop, manja tudo de quadrinhos e produções do meio, como ”Game of Thrones”, ”Star Wars”, ”Conan”, ”Cavaleiros do Zodíaco” e por aí vai.
Origens Secretas
Javier Rey segura bem as pontas na figura do protagonista cético e certinho. Ele leva a lei a sério e é policial justamente porque é o que esperam de um órfão que perdeu a família para o crime. Enquanto isso, a beldade Verónica Echegui não só esbanja talento, como também muita personalidade. Ela tem as melhores tiradas do longa (mas ainda merecia mais tempo de tela).
Ernesto Alterio se diverte trabalhando no necrotério da polícia, a medida que Antonio Resines passa a sensatez e maturidade do velho tira. Brays Efe destoa um pouco do restante do elenco por uma atuação fraquíssima e forçada. Mesmo sendo engraçada. O diretor não se priva de cair nos velhos estereótipos. Praticamente todos os nerds retratados aqui são tipos oitentistas, sem qualquer um descolado ou moderninho para dar um contraponto. Assim como alguns diálogos, que são muito expositivos e didáticos (faltou um curso com The Big Bang Theory para maior naturalidade na comunicação geek).
Algumas considerações
Com bom ritmo e boas sacadas, da trilha grandiosa e super-heróica, até os enquadramentos e trabalho de direção de arte, que vai até o figurino inspirado tanto do inimigo quanto do herói final, é justamente o terceiro ato o mais problemático. A começar pela obviedade da identidade secreta do vilão (que até tem certa lógica em seus objetivos, por mais que todo seu plano seja completamente insano), quanto de que tudo o que adversário planejou de fato se concretizou (da morte improvável de uma vítima que estava para ser salva até do desfecho no caldeirão de ácido).
Um roteiro seguido a risca, que torna o clímax um pouco esquisito, mas querendo ou não, o vilão conseguiu o que pretendia: criar um herói para os dias de hoje. E, não se levando a sério assim, Origens Secretas acaba sendo uma boa pedida de entretenimento. Ou o Ano Um, digamos.
https://www.youtube.com/watch?v=Dmii2JA9v4o&ab_channel=AbaixodoRadar