Victor ou Victoria, um filme sobre gêneros

Victor ou Victoria? é um filme de 1982, dirigido por Blake Edwards e inspirado no filme alemão Viktor und Viktoria, de 1933.

Victoria Grant (Julie Andrews) é uma cantora lírica desempregada, que mal consegue pagar sua comida. Quando ela conhece Carroll Todd (Robert Preston), um homossexual assumido que acaba de ser demitido pelo seu ex-namorado, os dois resolvem bolar um plano.

Victoria passa a se vestir como homem e se apresentar como Conde Victor Grezhinski, um transformista. Conde Victor começa a fazer sucesso, mas a farsa corre o risco de ser desmascarada quando Victoria se apaixona por King Marchand (James Garner).

Victor e Victoria

A trama de Victor ou Victoria? é certamente interessante. O filme se passa em 1934, em Paris, e tem uma sinopse digna de um filme que se passa nos dias de hoje.

O fato de Victoria passar a se vestir como homem para se apresentar é uma boa forma de apresentar o transformismo. Prática essa que existe há muito tempo, mas que sempre foi alvo de chacota ou preconceito. É verdade que atualmente as drag queens tem ganhado mais visibilidade, inclusive fora do meio, mas em 1982 quando Victor ou Victoria? foi filmado, não era assim.

O filme por outro lado, retrata essa prática sem muito preconceito. Victoria passa a se vestir de homem porque se vê sem escolha, mas não é uma coisa que a incomoda de maneira nenhuma, muito pelo contrário. Depois de um tempo ela está completamente dentro do seu papel.

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O que Victor ou Victoria? quer investigar é a complexidade da ideologia de gênero dos anos 80. Quando as mulheres já trabalhavam fora e em muitos casos, já não dependiam mais de seus maridos. A liberdade sexual já era maior e os questionamentos em relação ao gênero cresciam.

O que o filme demonstra além disso, é o fato de que todos nós temos lados femininos e lados masculinos. Victoria certamente se identifica como uma mulher. O termo transgênero nem passava pela cabeça das pessoas na época em que o roteiro desse filme foi escrito. Mas a personagem também tem aspectos masculinos na sua personalidade. Isso porque não existe nenhuma regra do que é feminino e do que é masculino, além dos nossos genes e órgãos sexuais. E nem isso quer dizer mais tanta coisa.

Tudo isso são coisas que sabemos agora, mas que certamente não eram discutidas em 1982, o que faz de Victor ou Victoria? um filme extremamente moderno.

Um filme moderno

Além do tema central do filme ser algo que até hoje é discutido, o longa tem outros pontos interessantes que fazem de Victor ou Victoria? um filme ainda relevante. Há personagens homossexuais assumidos, como Todd e seu ex-namorado. O próprio King Marchand, um homem heterossexual completamente dentro dos padrões de masculinidade da época, começa a questionar sua sexualidade quando percebe que está se apaixonado por Victor, ou melhor, Victoria.

Claro que o filme não apresenta nenhum relacionamento gay abertamente, embora em determinado momento Marchand diga que aceita Victor sendo homem. Mas nesse ponto ele já sabe que Victoria é uma mulher. E a relação de Todd e seu ex-namorado mal aparece nas telas, ele apenas insinua. Mas nesse contexto, isso já é relevante. É muito fácil assistir ao filme e sair com a mensagem de que as pessoas se apaixonam por pessoas independentemente de seu sexo, afinal, embora Marchand resista, ele se sentiu atraído por Victoria enquanto ela se passava por Victor.

O filme também ensaia falar sobre machismo, já que o fato de uma mulher que não consegue emprego no show business, fazer sucesso quase automaticamente quando começa a se apresentar vestida de homem, diz muito sobre a nossa sociedade e sobre como o mercado de trabalho vê as mulheres, especialmente nos anos 30. Mas essa não é uma crítica que o longa se empenha em tratar com tanto afinco. E ele acaba reforçando alguns estereótipos femininos com a personagem de Lesley Ann Warren, que é a típica loira burra.

Aspectos técnicos de Victor ou Victoria?

Victor ou Victoria? diferentemente de muitos musicais, não é inspirado em nenhuma peça, mas sim em um filme alemão de 1933, que também é um musical. Para a versão de 1982, é natural que tenham sido feitas algumas mudanças.

Victor ou Victoria? tem músicas que foram compostas para o filme, por Henry Mancini, e como Cabaret, boa parte dos números musicais se passam no palco, mas todos eles também refletem as situações que acontecem na trama do filme. Entre as músicas estão Gay Paree, Le Jazz Hot!, The Shady Dame from Seville, You and Me e Crazy World.

No elenco estão Julie Andrews (de A Noviça Rebelde e Mary Poppins), que começou sua carreira na Broadway na peça My Fair Lady e John Rhys-Davies (O Senhor dos Anéis e Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida), e James Garner (de Maverick).

O longa nunca chegou aos teatros, o que é raro para um filme musical, mas foi indicado a 7 Oscars, entre eles o de melhor atriz (Julie Andrews), melhor ator coadjuvante (Robert Preston) e melhor atriz coadjuvante (Lesley Ann Warren), e levou para a casa o de melhor trilha sonora adaptada.

Victor ou Victoria? é um filme moderno, que retrata temas que hoje, mais do que nunca, ainda são relevantes.