Upgrade, ficção científica renova ideias do gênero
Parece um Black Mirror dos bons, mais brutal e sangrento
No futuro próximo, a tecnologia controla quase todos os aspectos da vida. Ou seja, desde carros que se guiam automaticamente, até casas inteligentes por comando de voz. Mas quando um mecânico tecnofóbico tem seu mundo virado de cabeça para baixo, sua única esperança de vingança é um implante experimental de chips. Dessa forma, ele terá uma segunda chance e algo a mais (um Upgrade).
A Blumhouse tem sido uma das produtoras de terror e FC mais criativas do mercado nos últimos tempos. No currículo com Sobrenatural, Ouija, A Visita, Atividade Paranormal, O Presente, Whiplash (sua obra oscarizada), Uma Noite de Crime, Fragmentado, A Morte te dá Parabéns, o novo Hallloween e Corra! (só para citar os de grande qualidade), a casa das ideias renovadoras mantém o nível alto nesse longa com escopo independente, que muitas vezes nos remete ao primeiro “Blade Runner” (que muito antes de ser um cult idolatrado, tinha essa pegada mais alternativa) e até de outras produções de margem do tipo, como “Amnésia” e “13º Andar”, mas com renovações na maneira de filmar que, se não sai caro no orçamento, ao menos deixa a obra mais arrojada.
Upgrade: Atualização
E realmente Upgrade parece um grande e ótimo episódio da antologia Black Mirror, tanto ao mostrar onde a tecnologia pode chegar, como nas consequências do mau uso dela. Ou seja, todas vias recorrentes já utilizadas na famosa série. E tal discurso também já foi comunicado em outros filmes do gênero, afinal a FC não tem muito para onde correr, ainda mais se for tratar de futuros próximos.
A grande sacada do diretor Leigh Whannell (velho parceiro da Blumhouse) portanto, não foi no diálogo, mas na maneira como ele realizou isso. Ele deu uma nova cara ao tema, com saídas narrativas inteligentes. E um jeito estiloso e enervante de filmar as coreografias, com a câmera acompanhando o protagonista quando ele está tomado pela inteligência artificial, o que confere personalidade à produção, uma identidade única a ela.
O cara
Logan Marshall-Green (que é a cara do Tom Hardy e tem tanto talento quanto) faz o personagem principal aqui e entrega boa fisicalidade, tanto nas lutas, quanto na estranheza “robótica” de seus movimentos, fornecendo um grande grau de emoção nos momentos dramáticos também. E fazendo um paralelo com o filme de “Venom” (onde Hardy atua), se pensarmos que o chip Stem é um tipo de simbionte cibernético, nesse viés, Upgrade se sai melhor também, pois a proposta invasiva do implante para um tetraplégico faz mais sentido e, o do IA assumindo a liderança (como já vimos acontecer em Matrix, Controle Absoluto, Exterminador do Futuro e Eu, Robô, entre vários), transmite um maior senso de gravidade às sequências.
A resolução da trama parece muitas vezes caminhar para a previsibilidade a ponto do espectador acreditar já tê-la desvendado em meia hora de filme, mas existe uma pequena reviravolta como cereja do bolo, que não só faz todo o sentido, como também apara todas as arestas, nesta ficção científica com cara de produção B, mas charmosa e repleta de novas ideias.
https://www.youtube.com/watch?v=nv-TAm0-zyk